EU NUNCA SEREI PÓ
Eu nunca serei pó, porque sou alma.
Sou espírito e em pó não me farei;
morrerá meu corpo e pouco importa,
que vire pó a minha carne morta,
se desta carne, livre, evolarei.
Eu nunca serei pó, porque sou alma.
A alma é luz, seja a luz negra ou dourada,
e luz não se rebaixa às sepulturas,
podendo ter seu brilho nas alturas,
ou mesmo lá num caos, abandonada.
Eu nunca serei pó, porque sou alma.
A carne é roupa, indumentária apenas,
com que Deus veste qualquer ser etéreo,
só para realizar do seu mistério,
tantas e estranhas transações terrenas.
Eu nunca serei pó, porque sou alma.
Se a carne acaba no feral abismo,
dessa soturna deusa de destroços
chamada Morte, vã silhueta de ossos,
a alma não na recebe em seu batismo.
Eu nunca serei pó, porque sou alma.
Sou poesia, amor, adoro a vida,
e brilharei na música ou no verso,
entre as estrelas claras do universo,
quando da carne me encontrar despida.
Michel Quoist.
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